segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Está quase tudo bem!


Todos os dias, o via chegar com o seus, 70 anos, a ele e ao seu casaco coçado quadriculado, tinha uma sua camisola de borbotos que parecia confortável com umas renas a passearem-lhe ao nível do peito, o colarinho estava coçado e tinha pronunciadas rugas de expressão na face.
Em cima das quatro horas, os seus olhos azuis enfrentavam o relógio de feira, descaído, na parede do estabelecimento, aparecia aquele rosto magro e anguloso, uma expressão gentil.
Se tiver vaga, ir-se-á sentar na mesma cadeira, estrategicamente, colocada com vista para a entrada e o empregado perguntava-lhe: “- Está tudo bem e é o mesmo de sempre!” e ele via responder sorrindo, serenamente: “- Está quase tudo bem, é isso mesmo!”. Demorará cerca de 25 minutos a comer meia torrada e a beber um galão escuro.

Lisboa, 3 de Fevereiro de 2013
Carlos Vieira


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