Mostrar mensagens com a etiqueta Henri Matisse. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Henri Matisse. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Noites de breu à procura III


No princípio
eram os pássaros
de fogo
emboscados
nos misteriosos
interstícios
a latejar
na tua pele
numa ânsia
de vulcão
num secreto
prazer
a fervilhar
armando-me
ciladas
nessa noite
as explosões
e as réplicas
do teu ser inteiro
inventaram
em mim
múltiplas
madrugadas
e tuas unhas
afiadas
a sulcarem
o meu dorso
riscando
caligráficas
as assinaturas
das constelações
em sangue e em luz
foi então
que nos perfumados
promontórios
do teu corpo
saboreei
o sal e o mel
do êxtase
enquanto a lança
incandescente
ía em busca
do coração
e acendia
divina a chama
e depois
do amplexo final
regressaste
àquela solidão
olímpica
e sem sexo
de ternura
asséptica.
Lisboa, 22 de Maio de 2016
Carlos Vieira


Nu Azul III - Henri Matisse

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Herbário I - A efémera beleza e a razão eterna dos cravos



O seu perfume exortava
perdurava intenso nas narinas
afiando o gume agridoce
das palavras que antes eram
apenas e só murmúrios
as plantas apresentavam-se
num silêncio perturbado
animadas da ousadia púrpura
abandonaram os jardins
o sorrisos cínico das janelas
eram eloquência do sangue
que não se quis derramado
sobre a véspera incólume
erguiam seu precário sonho
raíz na alma do cano da G3
o júbilo violento que inebria
frescura carmim que crescia
pelo país erguido em pétalas 
numa suave firmeza vegetal
um prelúdio de chuva fina
prenhe da esperança pueril
de homens duros e antigos
que nunca tinham chorado
agora o cristal das lágrimas
de raiva e amor incontido
lavando perplexos rostos
de penas e tristeza lavrados
calando baionetas no coração
esplendor de subtil clemência
de um gesto que faz renascer
na memória a beleza efémera
e a razão eterna dos cravos.

Lisboa, 26 de Abril de 2013
Carlos Vieira
 

                                   “Mulher em Verde com um Cravo” por Henri Matisse