Catarse
do teu corpo côncavo
e o vagar
de vício absoluto
na tarde
do olhar que antecede
o precipício
num vórtice
de proibido fruto
na sede
que te invoca
e desces depois
pela água turva do rio
que te cerca
numa vertigem de pétalas
num sortilégio de aves
que te curva
tu és agora
o animal ferido
antes de ser afoito
e astuto
de sucumbir num grito
e de partir a seta
sem dizer nada
oiço-a no restolho
do teu sexo
e numa prece de arbusto
oiço-a numa pressa
de serpente
de olho por olho
de me deixar ir
na corrente
na catarse
do dente por dente
devagar tão devagar
surge no ápice da febre
que nos transcende
o beijo que percorre
a constelação
do teu corpo
incrédulo
até sentires
dentro de ti
crescente
o céu e o inferno
o fogo e a luz
num abraço
de estrela cadente
num frémito perfumado
de flor
Lisboa, 31 de Março de 2012
Carlos Vieira