Deixo cair
a doce magia da tua noite
para que cintilem
os vestígios de suor
o cristal das lágrimas
mistérios de sémen
pois existe essa epiderme de sal
nos fragmentos da memória
o esboço do teu vulto sentado na cama
enquanto te despes
mulher hábil
serás por ventura imperfeita
e frágil
mas só tu exprimes no olhar
esse intangível reencontro da serenidade
depois da tesoura das tuas pernas
no turbilhão do amor
tuas ternas mãos sabem desfolhar
as estrelas
nos dias da indiferença
ali se despe ainda a penumbra do teu corpo
que nu se pode erguer como um sol
e derramar a cal
sobre aquilo que calam os muros do tempo
e os musgos da infâmia
Lisboa 8 de Janeiro de 2012