De ti
são inúmeros os sinais que vislumbro
por detrás
da efémera cortina do momento
em que espreitas
por uma janela de tempo
de tanto mar
e de tanto desassossego
contudo não encontro
a nua latitude do teu torso
e navego na esteira
do que nos guia e nos ilude
por vezes aquela luz lá longe
podem ser as labaredas do teu seio firme
ou o intrépido rasgar da tua carne
enunciando o fulgor dos pássaros
cúmplices
solto as amarras
e sigo-te por aquela rota
pois podes ser o silêncio aceso nas falésias
e ouvir a tua voz
é como exibires uma coroa de prata
e se despires a filigrana da espuma dos dias
vais devastar a mentira etérea
e o verdete da malícia
que nos cerca
e nos separa
se pudesse
apenas saborear de novo o calor e o sal
que libertas do teu corpo
só isso me iria permitir
fundear noutros horizontes
à sombra dos teus pensamentos
se pudesse usufruir dos aromas
que descem felinos
pela noite das árvores dos bosques
no teu território
se pudesse desfrutar
no jardim luxuriante um simulacro
dos teus inesperados abraços
e ir à flor da pele
sorver o elixir e o antídoto
dos frutos proibidos
se pudesse descobrir o meu rumo
se ele fosse necessário às tuas tréguas
nunca estaria perdido
nestes desencontrados sinais
de ti
Lisboa, 17 de Janeiro de 2012
Carlos Vieira
“Pequena sereia” em Copenhaga