(Poema de Margarida Vale de Gato)
tanto tempo casta
tanto tempo apenas
admirada, nunca
amada, agora
presenças transparentes
me atendem
de dia impaciente
conto as horas
que impedem tua chegada
virás como sempre
trajando o manto
do homem invisível
de noite vens velar
o pranto previsível
promessas leves
que a dor é breve
preliminar do amor
que me atravessa
no reverso da língua
que lambe a mão
e sorve o leite
surde o azeite
que queima o dorso
do corpo ocre
o atirador
rechaça a corda
do arco terso
a flecha
corta.