I
o pão é alvo
a fome é negra
as letras são magras
e correm como loucas
pelas folhas em branco
são pássaros neste tempo
de Inverno rigoroso
que buscam as migalhas do poema
do pão que o diabo amassou
II
pensar o poema
juntar-lhe o fermento
ir ao forno da memória
das noites de pão quente
ou de antes disso
do pão ázimo
dos versos mal cozidos
que a mãe trazia pela mão
de volta à casa
da fome e do medo
Lisboa, 22 de Fevereiro de 2012
“Saint blessing of bread, together with an elderly lady and a young ” por Jusepe de Ribera