Outro Inverno na mesma alameda de sempre
Sol de Inverno
natureza morta
a outra para lá caminha
aves arremessadas
ao céu como pedras
do caminho
o vento corre
pelas ruas desertas
paro, escuto e olho, e nada
a chuva promete
as nuvens passam distraídas
e nós vamos com as nuvens
nesta encruzilhada
do presente a que chegamos
perdemos por falta de comparência
ficamos a tiritar de frio
e do tiroteio nos abrigos das guerras
no tronco nu pulsa-nos um tira-teimas
no inverno a morte é mais fria
é como uma dormência no corpo todo
copo cheio de pedras de gelo
nas árvores, nem flores
nem folhas, nem frutos
daqui vos saúdo últimos resistentes
e sendo assim o conhecimento
é esta luz velada do Inverno
um tempo de misericórdia
Lisboa, 31 de Dezembro de 2012
Carlos Vieira