Sempre este secreto desejo do reencontro
na esquina um lugar
onde te reconheço
Esta insatisfação na altitude de um beijo
aritmética invulgar
quando amanheces
Inventas o caminho íngreme que me contas
vences um socalco
e esconde-se a raposa
Depois a luz que o ângulo do teu rosto revela
é só o fragmento do olhar
na clausura da tela
Por entre as copas das árvores espreita-me
o céu ou espreito-te eu
a ave que voa nada teme
O gesto parte contorna-te os lábios
fala por si
e tanto havia para te dizer
Não sei se é teu o vulto que avisto
fraca é a vista
só de tocar-te fico cego
O belo alabastro dos teus ombros tão exacto
do perfume que inebria
e da confluência de afagos
Banhado pela fome ou luz triste que o despe
resiste o mistério do teu corpo
fogo eterno que me consome
Lisboa 15 de Janeiro de 2012
Carlos Vieira
“Naked Woman before Stove” por Felix Vallotton