"Obra de Lima de Freitas"
Breve epifania do amor de Pedro e Inês
os monges percorrem os claustros, o silêncio, a horta
o silêncio e os claustros
nos monges há um
perfume dos legumes frescos
dou-te a minha mão
enigma de carne macia e hortelã
e um deslumbramento de sangue empolga
o teu coração de calcário
sob a cúpula da manhã
os frades depois das matinas tinham tempo
paciência e temperamento
os doces aromas conventuais dos frades
acordámos dos nossos sonhos de pedra
na surpresa das
gentes por seres tão jovem
o mar que bramia
aturdido da tua morte
no nosso sono eterno
era um choro interior
no convento havia punhais, cânticos e andorinhas
perpendiculares às
lâminas de luz
que atravessavam os vitrais e as orações
nas noites seculares da insónia
levantávamo-nos do túmulo dos dias
e banhávamo-nos no
rio
nunca morrem
os que não saram a cicatriz da história
Lisboa, 18 de Fevereiro de 2012
Carlos Vieira