Ide, cantos meus, ao solitário e ao insatisfeito,
Ao nevrótico também, ao que por convenção não é escravo,
Mostrai-lhe meu desprezo por quantos os oprimem.
Ide como alta vaga de água fria,
Fixai o meu desprezo pelos opressores.
Prégai contra a opressão inconsciente,
Prégai contra a tirania do inimaginável,
Prégai contra os acordos.
Ide à burguesia que morre de seus tédios,
Às mulheres nos subúrbios,
Aos noivados revoltantes,
Àqueles cuja falência foi dissimulada,
Aos amantes infelizes,
À esposa comprada,
À mulher vinculada.
Ide àqueles que têm gostos delicados,
Àqueles cujos delicados desejos são frustrados,
Ide como uma praga sobre a estupidez do mundo;
Ide com vosso gume contra isto,
Reforçando as cordas subtis,
Levai confiança nas algas e nos tentáculos da alma.
Ide de maneira afectuosa;
Ide com um discurso claro,
Sede ansiosos por encontrar novos demónios e novas bondades,
Sede contra todas as formas de opressão.
Ide a quantos emagreceram pela meia-idade,
Ide a quantos perderam seus interesses.
Ide junto do adolescente que é amolecido na família –
Oh como é odioso
Ver três gerações numa casa existindo juntas!
É como uma velha árvore com rebentos
E com alguns ramos secos e a cair.
Ide-vos e não cuideis de opiniões,
Ide contra esta escravidão vegetal do sangue.
Sede contra toda a espécie de amortizações.
EZRA POUND
(versão portuguesa de Fernando Guedes)