Eis-me aqui ao leme no meio do turbilhão do nosso desejo
Sulcando teu corpo sendo toda a Terra és tudo o que vejo
Teus dentes brancos na crista da onda no peito me devoram
Enquanto lentamente te atravesso tuas profundas entranhas
As unhas cravadas nos meus ombros toda a razão dilaceram
Tendo-te à mercê sem nunca te entregares me acompanhas
Mesmo quando a tua agitada tempestade mais me atormenta
Sigo no teu rumo e querendo-me salvar em ti fico perdido
Minha alma em chamas a tua carne doce de coral sustenta
Fujo do olho do furacão e se mais longe de ti mais desmedido
Mais cego do amor que desce na vaga e se torna mais fecundo
Nesta expedição em que para fugir de ti fui ao encontro da
dor
Erro no labirinto cósmico do teu corpo pois não há mistério
maior
Que o de olhar-te nos teus olhos e entrando em ti escutar o
mundo
Lisboa, 8 de Julho de 2012
Carlos Vieira