A esse pássaro que canta nas árvores
apetece-me atirar pedras,
a ver se de uma vez por todas
ele se decide por voar mais do que canta.
A esse pássaro de gaiola
apetece-me envenenar a alpista,
a ver se lhe alivio as dores
de tanto esbarrar contra as grades.
Só à águia embalsamada na taberna
da Francisca nada me apetece fazer.
Fico a olhá-la como a um espelho.
E nada me apetece fazer.
(A dança das feridas, Colecção Insónia, 2011, p. 21)
Henrique Manuel Bento Fialho