Telúrica
vives séculos ajoelhada na tarde rural de um postigo
depois pode ser o rapto de um abraço, a mordaça de um lenço
o pânico do rosto inquieto onde o amor lê sinais esperança
e não vê sinais de perigo
No lago
surpreendida na tempestade navegas no barco amigo
soletras o relâmpagos e as trevas e na eternidade feroz
das vagas até se apagar o fogo do teu corpo deslumbrante
e sem abrigo
Sacro
é teu corpo já manso sobre o rumor do piano e do trigo
e os caracóis dos teus cabelos, vens descalça pelo sono
solto
dos teus olhos que irradiam o brilho da noite
solitário epílogo
Ouve a minha trova
onde crepita o sangue de um canto antigo
a arfar no vulto tangível da mulher nova
ouve o coração despedaçado que sangra a ferida
rosa de um figo
Lisboa, 14 de Abril de 2012
Carlos Vieira
“Perseus e Andrómeda”