segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Logaritmos


Sempre este secreto desejo do reencontro
na esquina um lugar
onde te reconheço

Esta insatisfação na altitude de um beijo
aritmética invulgar
quando amanheces

Inventas o caminho íngreme que me contas
vences um socalco
e esconde-se a raposa

Depois a luz que o ângulo do teu rosto revela
é só o fragmento do olhar
na clausura da tela

Por entre as copas das árvores espreita-me
o céu ou espreito-te eu
a ave que voa nada teme

O gesto parte contorna-te os lábios
fala por si  
e tanto havia para te dizer


Não sei se é teu o vulto que avisto
fraca é a vista
só de tocar-te fico cego

O belo alabastro dos teus ombros tão exacto
do perfume que inebria
e da confluência de afagos

Banhado pela fome ou luz triste que o despe
resiste o mistério do teu corpo
fogo eterno que me consome

Lisboa 15 de Janeiro de 2012

Carlos Vieira

“Naked Woman before Stove” por Felix Vallotton



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