quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A coberto do manto da noite



a coberto do manto da noite

podes anotar o calado despudor
nas vésperas da hipocrisia

intromete-se o murmúrio interrompido
de um tempo de atrevida mediocridade

é implacável o cerco à intolerância
ou pretextos de autos de fé

apaga-se o trilho da vergonha
que se desenhava no êxodo dos pássaros

desnudas a ingratidão de vencedores
e dos vencidos

acendes no rosto das crianças álacres
um novo alento de manhãs profícuas

permite-se-nos o vagar de frágeis animais
no mundo dos atalhos

és a desordem que sobrevive
à geometria triangular do amor
no aparente descanso dos recalcitrantes da luz

chegas e a história repete-se
os pés descalços dão outra gravidade
à trilogia das pedras

à volta das lâmpadas inconfundíveis mãos inocentes
é possível apenas um beijo fugaz
na profunda liberdade de uma lágrima

pode acender-se depois a áurea
de uma insólita humanidade
e a firmeza do golpe de misericórdia desferido
na sombra

Lisboa, 9 de Novembro de 2011

Carlos Vieira

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