“Tempus Fugit” Salvador Dali
Procuro-te nesta câmara escura
e observo-te no teu vagar
sonolento
com que te desnuda
o cloreto de prata do tempo
revejo-te princesa
no tule rendilhado do teu véu
a saíres ilesa dessa espuma branca
a iniciares a tempestade
de uma memória fugidia
sorris luminosa
vencedora do ocre e do salitre das casas
na marginal do céu
eu que me pensava refugiado em ti
e apenas voava com tuas asas
ali te perdi de calções e de chapéu
entre nuvens de fumo
e persegui o chilrear do teu riso
ali me perdi perdendo o teu rumo
no gesto amável e conciso
pairava o piano de olhos já cegos
o harpejo dos dedos no fim da tarde
sem alarde
e aguardavas no átrio do hotel
Yolanda da baía de “Cienfuegos”
sendo de todas e de cada uma das mulheres
onde te perdi
oiço-te os passos mulher primordial
se te ausentares para me salvar
morrerei para ressuscitar nos teus braços
Lisboa, 29 de Janeiro de 2012
Carlos Vieira
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