“Voo nocturno” de António Jorge Gonçalves
Voo nocturno
Hélice, flor mecânica que nos faz voar pelo eixo álacre do sonho, pela tua voz desço até à doce turbina do teu sexo, na vertigem do teu corpo entrego-me ao frenesim e à avidez desses lugares inexplorados, onde sempre estremeço e te beijo os pés e estou nas nuvens e desligo os motores e me deixo pairar.
Se acordo com a mãos dormentes e transido de frio, fico feliz só de ouvir-te respirar, descanso porque exala o perfume do teu corpo, num prodígio de nimbo-estrato que transponho num frémito repetido como se fosses o mar profundo.
Tu que és essa força centrípeta, a ordem e o caos onde me confundo na altitude do anseio e na plenitude do real que me apazigua a dor e onde, perdido, percorro o céu, cúpula do teu amor de olhares o mundo.
Lisboa, 21 de Janeiro de 2012
Carlos Vieira
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