País de água
que assoma nos interstícios
de adobe
de casas antigas
preenchendo as brechas abertas
em memórias agitadas
ao largo
da presunção da inocência
na margem dos suor frio
um amor que se encontra abalado
sem rumo
perante o trágico desmoronar
dos caminhos
o nível das águas vai subindo
ninguém dorme sossegado
alguém sufoca
na respiração movediça das algas
existe um olhar toldado
na sombra dos castanheiros
as rãs ensaiam os seus saltos ridículos
barcos navegam desgovernados
prevalece o livre arbítrio
na escuridão do canal
está encurralada pelo rumor das piranhas
a clarividência de um pensador
neste país de água
o fulgor da primeira madrugada
inicia-se agora no peito da minha amada
que deixei a salvo deste caos
sereia resguardada
por uma couraça de escamas
de onde ainda escorre uma réstia
de luar embaciado
e por cima da falésia
contra a sofreguidão do vento
o vulto em contraluz
do pescador de águas turvas
país paciente
ou cansado
de morrer na praia
Lisboa, 13 de Fevereiro de 2014
Carlos Vieira
Sem comentários:
Enviar um comentário