Eu criei na minha casa um pequeno cavalo. Ele galopa no meu quarto. É a minha distração.
De início, eu tinha algumas preocupações. Eu me perguntava se ele cresceria. Mas minha paciência foi recompensada. Ele tem agora mais de cinquenta e três centímetros e come e digere uma comida de adulto.
A verdadeira dificuldade vem da parte de Hélène. As mulheres não são simples. Um nada de excremento as indispõe. Desequilibra-as. Elas não são mais as mesmas.
“De um traseiro tão pequeno, eu lhe dizia, pode sair muito pouco excremento”, mas ela... Enfim, tanto pior, ela não está mais em questão agora.
O que me inquieta é outra coisa, são, em certos dias, as súbitas e estranhas transformações do meu cavalo. Em menos de uma hora, sua cabeça infla, infla, seu dorso se encurva, se arqueia, se desfia e tremula ao vento que entra pela janela.
Oh! Oh!
Eu me pergunto se ele não me engana ao se passar por um cavalo; pois mesmo pequeno, um cavalo não se desfralda como uma bandeira, não tremula ao vento mesmo que seja por alguns instantes somente.
Eu não gostaria de ter sido enganado, depois de tantos cuidados, depois de tantas noites que passei a velá-lo, defendendo-o dos ratos, dos perigos sempre próximos, e das febres da juventude.
Às vezes ele se perturba por se ver tão nanico. Ele se transtorna. Ou, atormentado pelo cio, ele dá saltos enormes por cima das cadeiras e começa a relinchar, a relinchar desesperadamente.
Os animais fêmeas da vizinhança atraem sua atenção, as cadelas, as galinhas, as mulas, as ratas. Mas é tudo. “Não, decidem elas, cada uma por si, presa ao seu instinto. Não, não sou eu que devo responder.” E até o momento nenhuma fêmea respondeu.
Meu pequeno cavalo me olha com desânimo, com furor nos dois olhos.
Mas de quem é a culpa? Minha?
Henri Michaux
Traduções: Izabela Leal
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