Há
aventura maior
que descer o rio
interior?
de vencer o rio
rápidos
de Inverno
súbito e avassaladores
sentir
a força dos elementos
no frágil caiaque
que nos leva
sentir
as águas por vezes frias
e doces e cristalinas e revoltas
revoluções tranquilas
descer as gargantas
as cataratas
entre desfiladeiros
que desafiamos com o olhar
a pagaia ali no rochedo
acolá na margem
incansáveis
não temos medo de ninguém!
os corpos presos
os coletes boiando
- a segurança acima de tudo!
por cima de toda a folha e espuma
as arribas
e os arbustos caídos
inclinados por cima da corrente
parece que o céu desaba
- a paisagem, pois tá bem!
muito bonito,
não tenho tempo agora,
tenho mais que fazer!
quem me dera poder
que tudo fossem rosas
evitar os espinhos
que também os há
a humidade
a penetrar no impermeável
- logo agora
que nem tenho tempo
para coçar-me!
o suor e a força
de reencontrar o melhor rumo
- se apanho aquele remoinho
está tudo lixado!
a lâmina da rocha,
- fo…… foi por um triz!
todos heróis acidentais
só porque perto da morte
um pequeno rombo no casco
o que interessa é manter
um mínimo
de verticalidade
chegar suado e ferido
mas feliz
ao fim da enseada
ao final do poema
depois de nada ter ganho
ao rio
havemos por fim
de nos vencer a nós mesmo.
Lisboa, 18 de Fevereiro de 2014
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