terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Sei que vou por aí!



aventura maior
que descer o rio
interior?

de vencer o rio
rápidos
de Inverno
súbito e avassaladores

sentir
a força dos elementos
no frágil caiaque
que nos leva

sentir
as águas por vezes frias
e doces e cristalinas e revoltas
revoluções tranquilas


descer as gargantas
as cataratas
entre desfiladeiros
que desafiamos com o olhar


a pagaia ali no rochedo
acolá na margem
incansáveis
não temos medo de ninguém!

os corpos presos
os coletes boiando
- a segurança acima de tudo!
por cima de toda a folha e espuma

as arribas
e os arbustos caídos
inclinados por cima da corrente
parece que o céu desaba

- a paisagem, pois tá bem!
muito bonito,
não tenho tempo agora,
tenho mais que fazer!

quem me dera poder
que tudo fossem rosas
evitar os espinhos
que também os há


a humidade
a penetrar no impermeável
- logo agora
que nem tenho tempo
para coçar-me!

o suor e a força
de reencontrar o melhor rumo
- se apanho aquele remoinho
está tudo lixado!

a lâmina da rocha,
- fo…… foi por um triz!
todos heróis acidentais
só porque perto da morte

um pequeno rombo no casco
o que interessa é manter
um mínimo
de verticalidade

chegar suado e ferido
mas feliz
ao fim da enseada
ao final do poema

depois de nada ter ganho
ao rio
havemos por fim
de nos vencer a nós mesmo.

Lisboa, 18 de Fevereiro de 2014

Carlos Vieira


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