segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

O investigador de café


Senta-se no café, muito compenetrado, aparentemente sereno. Usa uns óculos com umas consideráveis dioptrias e cabelo naturalmente despenteado.
Num reflexo, constato que lê um livro em inglês grosso e encadernado. Consegue alhear-se das mesas contíguas, da ensurdecedora máquina café e da louça da cozinha. Heroicamente, da despudorada conversa de duas vizinhas, acerca das poucas-vergonhas que se passam no seu prédio, também não o impressionam.
Continua ali impávido, sem uma ruga no sobrolho, no seu vestuário confortável e nada formal, sublinhando com seu lápis Rotring algumas passagens, de vez em quando, talvez de vinte em vinte minutos, levanta a cabeça como se fosse um mergulhador que vem respirar à superfície.
Lisboa, 3 de Fevereiro de 2014

Carlos Vieira

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