domingo, 9 de março de 2014

Serra dos Candeeiros



a oeste
da minha infância
nada de novo

vislumbrar
as estrelas
pelas chaminés 
das grutas
e o céu
do tamanho
de um homem

onde
gota a gota
se vão formando
jardins
de grandes falos
de calcário
e do amor paciente

pelas gargantas
e penhascos
gorjeios pueris
e risos falsos
tronitruantes
e alegrias
e visões
ancestrais

estou preso
pendurado
na corda
do tempo
ao mundo 
exterior
sem espelhos

deito-me
extasiado
sob a abóbada
de fantasmagóricas
sombras
e enigmáticas
fosforências
ilusões

acordam-me
nas entranhas
da serra
criaturas fantásticas
e me deixam
em transe
num inominável 
estupor

estou de volta 
à infância
viagem de regresso
ao centro da terra
e do mundo

Lisboa, 9 de Março de 2014
Carlos Vieira



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