sábado, 29 de março de 2014

A oeste nada de novo


Sentou-se na esplanada
estratégicamente voltado 
para oeste
pediu um copo de água
o empregado assentiu 
contrariado
mas para ele 
nada podia contaminar
a sede da silhueta
a desevencilhar-se 
dos arbustos e das árvores
do jardim
a sua progressiva 
libertação das sombras
o contraste da delicadeza 
dos seus gestos
cristalinos
e da inacreditável doçura 
da sua face
com o fogo a crepitar
no seu olhar
e cada vez que a recordava
bebia um gole da água
que o empregado 
trouxera contrariado
e a oeste da esplanada
nada de novo.


Lisboa, 29 de Março de 2014
Carlos Vieira



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