Sentou-se na esplanada
estratégicamente voltado
para oeste
pediu um copo de água
o empregado assentiu
contrariado
mas para ele
nada podia contaminar
a sede da silhueta
a desevencilhar-se
dos arbustos e das árvores
do jardim
a sua progressiva
libertação das sombras
o contraste da delicadeza
dos seus gestos
cristalinos
e da inacreditável doçura
da sua face
com o fogo a crepitar
no seu olhar
e cada vez que a recordava
bebia um gole da água
que o empregado
trouxera contrariado
e a oeste da esplanada
nada de novo.
Lisboa, 29 de Março de 2014
Carlos Vieira
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