Louca
vive no fim do lugar
na margem da floresta
à noite
pousar-lhe-ia
a coruja num ombro
e os lobos
desciam as montanhas
e vinham-lhe comer
à mão
altas horas
faíscavam espantosas
fosforências
e saíam dali homens
tenebrosos
rezavam as má-línguas
que era tentada
pela poesia
e dada ao mau-olhado
o povo falava
de tudo aquilo a contragosto
até que um dia
um incêndio devorou a louca
e a sua casa
dividia-se a aldeia
comentando
abertamente ou entredentes
que tinha sido
providência divina
fogo-posto!
Lisboa, 30 de Março de 2014
Carlos Vieira
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