domingo, 2 de fevereiro de 2014

Jogo limpo

Jogo limpo

o poeta revela sérias dificuldades em jogar 
outro jogo que não o solitário
embora tenha mais dificuldade em fazer batota
consigo mesmo

o jogo está viciado
só lhe saem "duques ou senas tristes"
nem um trunfo
sem cartas na manga, nem no colarinho

o seu à vontade 
é mais evidente nos jogos de tasca
a lerpa, a sueca, o sete e meio
de um trago a luz embaciada
no vidro pesado de um copo de três
e outra vez a manilha seca

um sorriso aflora-lhe
nos lábios
se falar do jogo do burro 
e da bisca lambida
da infância

claro que sente a ternura
de uma partida de bridge
a volúpia tranquila
da canasta
de outros jogos de salão
das pequenas obscenidades
por debaixo da mesa

o poeta não pode deixar de ir a jogo

Lisboa, 2 de Fevereiro de 2014
Carlos Vieira



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