Jogo limpo
o poeta revela sérias dificuldades em jogar
outro jogo que não o solitário
embora tenha mais dificuldade em fazer batota
consigo mesmo
o jogo está viciado
só lhe saem "duques ou senas tristes"
nem um trunfo
sem cartas na manga, nem no colarinho
o seu à vontade
é mais evidente nos jogos de tasca
a lerpa, a sueca, o sete e meio
de um trago a luz embaciada
no vidro pesado de um copo de três
e outra vez a manilha seca
um sorriso aflora-lhe
nos lábios
se falar do jogo do burro
e da bisca lambida
da infância
claro que sente a ternura
de uma partida de bridge
a volúpia tranquila
da canasta
de outros jogos de salão
das pequenas obscenidades
por debaixo da mesa
o poeta não pode deixar de ir a jogo
o poeta não pode deixar de ir a jogo
Lisboa, 2 de Fevereiro de 2014
Carlos Vieira
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