Uma parede de pedra e musgo
e líquenes
e as raízes a que ficou preso
o teu destroçado coração
ali existem os pedaços de caixilhos
de uma janela
reflexos de olhos de bestas
no escuro
e lâminas de vidros quebrados
e a pairar
a memória do amor
inadiável
as teias
são agora armadilhas de orvalho
para as aranhas
e tuas mãos a multiplicarem
as carícias
e os meus lábios
a aplacarem o desejo
nas ruínas da casa das alfaias
habitadas por lagartixas
e o cheiro intenso dos adubos
que sobraram da última
lavra
posso lembrar-me com exactidão
o beco sem saída
para a transação
dos nossos corpos nus
por um só corpo
e da premência das palavras
indecentes
fustigando a pele
no combate à inércia
à indolência
décadas atrás
antes da política agrícola comum
e do nosso abandono
e de termos reconhecido
que papel competia a cada um.
Lisboa, 12 de Maio de 2014
Carlos Vieira
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