Lembro-me
como se fosse hoje
usavas meias de vidro
até ao fim das tuas pernas
inquebráveis e longas
muito mais
do que as noites
depois olhava-te
tão fixamente
como nos atraem
os astros
e os abismos
por dentro de nós
amarinham
todos os demónios
e eu que me tinha
em tão grande conta
tão hábil e dotado
tentava desevencilhar-me
de ser estrangulado
pelo poder absoluto
dos cristais
que faiscavam
das tuas meias de vidro.
Lisboa, 13 de Maio de 2014
Carlos Vieira
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