terça-feira, 13 de maio de 2014

paredes meias



entre quatro paredes
um piano a duas mãos
o ranger das portas
e de janelas
o mistério dos ruídos
no sótão
a subtil alteração da brisa
no estendal
a subtileza do eco dos teus pés
em peúgas sobre o soalho
entre quatro paredes
depois de oito dias a sós
agonias de acordeão
pela mobília a memória 
do estremecimento da tua voz
o ritmo febril da percussão
acompanhado de especiarias
nos alumínios da cozinha
entre quatro paredes
de betão
o vidro duplo
o aproveitamento energético
a dança das cadeiras
cada coisa em seu lugar
eu sou duro de ouvido
"- Concede-me a honra desta dança!
- Eu não sei dançar!"
só às paredes confesso
minha casa da música
meu silêncio
minha respiração

Lisboa, 13 de Maio de 2014
Carlos Vieira

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