O meu cárcere
é o meu corpo
e a minha falta de ar
é ao tomar banho
no poleiro de uma flutuante
um pássaro a cantar
estou preso a mim
e se de ti me encanto
mais confinado me sinto
no peito labaredas
e nas paredes do estômago
as borboletas de espanto
e se num golpe
de asa e de inquietação
acima dos muros me levanto
logo vem a gravidade
da vida pôr termo à evasão
e me puxar para o meu canto
e ao meu ouvido
me lembrar o meu lugar
a minha idade
a necessidade
de manter o que resta
do corpo que foi festa
a esperança e o sonho de vida
o mais tarde possível
me libertar do corpo prisão.
Lisboa, 31 de Maio de 2014
Carlos Vieira
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