quarta-feira, 28 de maio de 2014

Jardim de Inverno II



As plumas
macias
do seu chapéu
sobre o sobrolho
eram fustigadas
pelo vento
agreste
que se tinha
levantado.

A serenidade

dura 
do seu rosto
passou do alabastro
ao metal
irreconhecível
forjado
no fogo da paixão
de lágrimas
amargas
e da loucura.

Tudo aquilo

poderia
ser uma cabala
mulher felina
apanhada
na sua própria
armadilha.

Quem conheceu

aquela mulher
a sua bondade
constava
ser impossível
que pudesse
sobreviver
impassível
naquele gelo.

A eloquência

da sua carícia
a sua presença
etérea
evoca o íman 
efémero do olhar.
O meu puro 
pudor
diante da sua tez
de ouropel
húmida
do relento
as minhas mãos
a passar a toalha
com que a havia secado
à volta
da tua cintura
tão devagar
beijo a beijo
poro a poro.

Um pequeno lapso

deixa a dançar
no meu espírito
o pêndulo
da sua ida e vinda
perante
os meus dilemas
na paisagem sépia
do regresso
ao beijar
indolente
à sugestão
do teu perfume
em recônditas
passagens.


Lisboa, 28 de Maio de 2014

Carlos Vieira

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