sexta-feira, 18 de abril de 2014

Sem palavras I



ladra 
desesperado
de fome 
ou da solidão
no fim do casario
um cão

a coluna de fumo
eleva-se 
de uma chaminé
à espera 
que se legende
a vida
sem horizonte

um pinhal 
esconde
a alma pura
do pinhão
o que está para lá
do abismo
a quem chamam
desconhecido

alguém espera
as palavras
que partiram
destemidas
pela estrada 
de terra batida
que voltem
com pessoas

os melros 
parecem letras 
pretas
gordas
que ficaram
por ali
a debicar
em silêncio

eu fico 
ali da janela
a esquadrinhar
no fim do lugar
anónimo
sobrevivente
a desdenhar
da crença
no princípio 
do mundo 


Lisboa, 18 de Abril de 2014
Carlos Vieira

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