Páro no semáforo
sorrio
sinceramente
encantado
pela reminiscência
que na desconhecida
havia de ti
ali na faixa da esquerda
um passado
não muito distante
entre mim e ti
dois riscos descontínuos
dois vidros fechados
o lugar do morto
uns pingos de chuva
consegui vislumbrar
pelos cantos dos olhos
que sorrias também
e havia um riso interior
e depois
depois foi a troca
do número de apólices
o preenchimento
da declaração amigável
e a discussão serena
de argumentos de quem
era a responsabilidade
pelo sinistro
tinha seguro contra
todos os riscos
menos contra a memória
do seu suave perfume
e as letras
que na sua escrita nervosa
perpassam.
Lisboa, 4 de Abril de 2014
Carlos Vieira
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