a viagem
é interrompida
por grão de areia
na engrenagem
e subtil
é a semente
de pedra
que nos faz tropeçar
como chegaste aqui?
pequeno pedaço de terra
que trazes contigo
o insustentável peso do mundo
foi a tempestade
foi um pássaro de passagem
ou és estilhaço da guerra
ardil do silêncio
empedernido e inábil
coração de cristal
lágrima esculpida
árido segredo
que o vento
sopra do deserto
ao micoscópio
inventario-lhe
as propriedades
redondo
e um pouco rugoso
grau de resistência:
elementar
neste laboratório
onde sonho lábios
e sabores
como é fácil ver
o argueiro
no olho do outro
e difícil ser cristalino
é ser
o sal da terra
e suportar
dentro do sapato
a areia da praia
ínfimo grão a ti
regresso
humildemente
e só te pergunto
qual o caminho?
porque na origem
e no final
irmãos seremos
de novo reduzidos
a pó
grão a grão
Lisboa, 24 de Abril de 2014
Carlos Vieira
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