quinta-feira, 24 de abril de 2014

poema granular


a viagem 
é interrompida
por grão de areia
na engrenagem
e subtil
é a semente 
de pedra
que nos faz tropeçar

como chegaste aqui?
pequeno pedaço de terra
que trazes contigo
o insustentável peso do mundo
foi a tempestade
foi um pássaro de passagem 
ou és estilhaço da guerra

ardil do silêncio
empedernido e inábil
coração de cristal
lágrima esculpida
árido segredo
que o vento 
sopra do deserto

ao micoscópio
inventario-lhe 
as propriedades
redondo 
e um pouco rugoso
grau de resistência: 
elementar
neste laboratório
onde sonho lábios 
e sabores

como é fácil ver
o argueiro 
no olho do outro
e difícil ser cristalino
é ser 
o sal da terra
e suportar 
dentro do sapato
a areia da praia

ínfimo grão a ti 
regresso 
humildemente 
e só te pergunto
qual o caminho?
porque na origem 
e no final
irmãos seremos 
de novo reduzidos 
a pó
grão a grão

Lisboa, 24 de Abril de 2014
Carlos Vieira










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