quinta-feira, 3 de abril de 2014

Perfídias



I
rasteira
gesto que surge
sorrateiro da penumbra
rente ao silêncio do cobarde

II
rasteira
golpe de luz
que te encandeia
na cúmplice obscuridade

III
rasteira
armadilha tecida
da pusilânime circunstância
da pureza contraditória do texto

IV
rasteira
insólita perturbação
que irrompe na ligeireza
conspirativa e eloquente das palavras

V
rasteira
subversão inócua
de um acaso de vontades piedosas
invocando as inóspitas luas da solidão

VI
rasteira
das torres de marfim
em que se consomem
em amor-próprio por detrás das máscaras

VII
rasteira
das girândolas
em que se imolam
os adoradores dos espelhos de água

VIII
rasteira
esse enigma
que se constrói
no emaranhado da mentira
labirinto de autocomiseração

IX
rasteira
do deslumbrado vate
que nas correrias da caça
perdeu a cedilha do ç
na poesia.

Lisboa, 4 de Abril de 2014
Carlos Vieira


Artist


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