I
rasteira
gesto que surge
sorrateiro da penumbra
rente ao silêncio do cobarde
II
rasteira
golpe de luz
que te encandeia
na cúmplice obscuridade
III
rasteira
armadilha tecida
da pusilânime circunstância
da pureza contraditória do texto
IV
rasteira
insólita perturbação
que irrompe na ligeireza
conspirativa e eloquente das palavras
V
rasteira
subversão inócua
de um acaso de vontades piedosas
invocando as inóspitas luas da solidão
VI
rasteira
das torres de marfim
em que se consomem
em amor-próprio por detrás das máscaras
VII
rasteira
das girândolas
em que se imolam
os adoradores dos espelhos de água
VIII
rasteira
esse enigma
que se constrói
no emaranhado da mentira
labirinto de autocomiseração
IX
rasteira
do deslumbrado vate
que nas correrias da caça
perdeu a cedilha do ç
na poesia.
Lisboa, 4 de Abril de 2014
Carlos Vieira
Artist
Sem comentários:
Enviar um comentário