Sentado próximo de um cadáver,
como uma perna de galinha
As carnes muito brancas,
os olhos muito abertos,
a língua dura e roxa,
o céu da boca azul:
não parece já, apetecer-lhe almoço
Passei à sobremesa,
em óptima melancia enterro o meu dente;
com a língua dou um estalo
o sabor é excelente
Daquele corpo pútrido,
o cheiro já mal aguento;
cuspo uma pevide,
acerto-lhe no ventre
Ainda estou para entender,
da morte, esta alquimia:
quando a sento à minha mesa,
a galinha sabe a faisão
e a melancia duplamente a melancia
em Sião, organização e notas de Al Berto, Paulo da Costa Domingos e Rui Baião, Lisboa: Frenesi, 1985, p. 2001.
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