quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Poema em pé

O poema 
deve afirmar-se 
na perpendicular
do tempo
estar preparado
para o pior
dar o peito
às balas
e a mão 
aos que caíram
ao seu lado
por um mundo
melhor.

O poema
ainda que 
corra paralelo
ao mar
e os versos 
se sobreponham
alinhados
no horizonte
são apenas 
caminhos
que nos céus
nos lançam
abismados
a aprender
a voar.

O poema 
deve ser 
erecto 
sem medo 
sem vergonha 
sem pudor 
e as palavras 
praticarem
a ternura
e o sexo alegre 
firme 
e sedutor.

Um poema 
deve içar-se
como um sabre
ao cimo da terra 
astro
que se não 
alumiar
dá calor.

O poema 
deve ser 
de pé
paciente
sem idade
aguentar
em silêncio
até chegar
a hora
da verdade.

O poema 
pode ser 
uma árvore
onde crescem 
ninhos
e países
se colhem 
frutos
e aromas
de cidade
em flor 
onde se criam
as raízes
e se molda
a vontade.

O poema
deve ser 
o que for
um peixe
à volta 
da pedra
um animal
acossado
pelo vazio
por amor.

Lisboa, 29 de Janeiro de 2014


Carlos Vieira

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