Poema em pé
O poema
deve afirmar-se
na perpendicular
do tempo
estar preparado
para o pior
dar o peito
às balas
e a mão
aos que caíram
ao seu lado
por um mundo
melhor.
O poema
ainda que
corra paralelo
ao mar
e os versos
se sobreponham
alinhados
no horizonte
são apenas
caminhos
que nos céus
nos lançam
abismados
a aprender
a voar.
O poema
deve ser
erecto
sem medo
sem vergonha
sem pudor
e as palavras
praticarem
a ternura
e o sexo alegre
firme
e sedutor.
Um poema
deve içar-se
como um sabre
ao cimo da terra
astro
que se não
alumiar
dá calor.
O poema
deve ser
de pé
paciente
sem idade
aguentar
em silêncio
até chegar
a hora
da verdade.
O poema
pode ser
uma árvore
onde crescem
ninhos
e países
se colhem
frutos
e aromas
de cidade
em flor
onde se criam
as raízes
e se molda
a vontade.
O poema
deve ser
o que for
um peixe
à volta
da pedra
um animal
acossado
pelo vazio
por amor.
Lisboa, 29 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira
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