terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Um amor sem correspondência

Um amor sem correspondência

Rosa em botão
desabrocha
que quero 
despetalar-te.

Lambuzar-te
do mel 
que sonho
para os teus lábios.

Soletrar 
a vertigem da pele
torneando a orla
do sono no teu ombro.

Avivar o incêndio
no ângulo morto da nuca
desfiando a loura filigrana 
do teu cabelo.

Inventar
a inenarrável odisseia 
no compasso
das tuas mãos.

Ajoelhar-me
diante do alabastro 
das tuas pernas
longuíssimas.

Anunciar 
em delírio
o vértice húmido 
do teu sexo.

Daí avistar
o ponto de fuga
e errando fazer o cálculo
para toda a galáxia.

Preservar
a distância
de poder amar-te 
em segredo.

As tuas nádegas
reflectem a música
e a luminosidade
das dunas ao luar.

Vislumbro o apelo
dos teus seios intrépidos
assinalando o rumo 
indómito do teu dorso.

Quero acreditar 
na indescritível visão
que interpreto
nos teus olhos castanhos.

Atravessas serena 
as revoluções
que acontecem 
na praça da cidade.

Sei de cor 
as asas do teu nariz 
arquejante e feliz
e as essências do teu perfume.

Descrevo o pescoço alto 
e elegante
para onde convergem
os abraços.

Teu pescoço
ponte que testemunha
o ruir do amor
e é cúmplice dos mistérios.


No entanto passo por ti 
e tu nem dás por mim
como se fosses apenas e só
uma obra de arte.

Eu aqui estou 
amordaçado na timidez
a tentar chamar-te à razão
gritando por ti dentro de mim.

Se eu pudesse ressuscitar-te
se pudesses não ser
por instantes
a minha morte.

Se pudesse 
articular a metáfora de uma rosa
em botão que vença o dialecto 
da nossa estranha solidão.



Lisboa, 7 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira



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