Outra vez
este pesadelo recorrente
sozinho no tabuleiro da ponte
suspenso de um sonho
decadente
na outra margem do tempo
o teu lenço
envolve o rosto
eloquente
uma gaivota que resgata
a promessa de beijo
da cinza
ou do aluvião da corrente
enquanto pilares se inclinam sobre o Tejo
e o presente
se extingue perigosamente
chamo-te aos gritos
e gesticulo e corro
e querendo
não ando em frente
cresce uma a névoa
e a sensação de desterro
acordo estremunhadamente
e percebo o fumo do cigarro
mal apagado
que ameaça acender
no teu retrato
um rio de fogo
e levar-te
ignora que o sonho acordado
do teu rosto
nas duas margens
irá permanecer
por toda a parte
aceso para sempre.
Lisboa, 15 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira
Gif de autor desconhecido
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