Mesmo aqui em frente, é meio-dia,
10 de Janeiro, fixo-me no pássaro amarelo a esvoaçar, à volta de uma flor
vermelha. Podiam ser um canário ou uma rosa mas não eram, não sei o nome, nem
de um nem de outro, o que pode tornar tudo mais misterioso. De repente, o
pássaro caiu fulminado e a flor desabrochou, podia ter sido assim, mas não foi.
Não, a flor não ficou depois ali a pairar, sobre aquele pássaro morto, ambos
seguiram o seu destino. Para embelezar a história daquele momento, precisamos
de misturar na dose certa, um pouco de mentira mas que seja verosimilhante,
fica bem o verde do cedro como pano de fundo, um pingo de veneno, não se pode
morrer de AVC, um pouco de amor sem lamechices, a poesia deve ser lenta e a morte
súbita, sem muitas explicações e depois bebê-la de um trago.
Lisboa, 10 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira
Jan Zaremba, “Pássaro amarelo, flor vermelha”
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