sábado, 18 de janeiro de 2014

FORAM OS LIVROS...


Foram os livros, todos os livros que lemos, que nos ajudaram, através das palavras, a dar uma nova vida às coisas fazendo-as renascer. Bernadim mostrou que o rouxinol não era apenas um pássaro catalogado pela ornitologia. E muita da tristeza do seu canto foi escutada, séculos depois, por Florbela Espanca, Pela leitura aprendemos a gostar de relações delicadas e amplificadoras como a do rouxinol com a tristeza. Esta que cobre as suas penas. Ele que com o canto narra a sua alma. A tristeza que se expande no seu voo e se recolhe na palavra rouxinol. E a alegria do rouxinol (o canto) serve, paradoxalmente, para exprimir a nossa tristeza. Não é uma metáfora nem uma figura de estilo. É ainda uma maneira de compreender a vida a partir dos nomes. Uns simples, como o Melro, de Junqueiro, ou a Cerejeira, de Torga, outros enigmáticos como Raomomar, de António Maria Lisboa.


Manuel Hermínio Monteiro, Uma Rara Magia

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