sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Em memória de um amor desconhecido




Sei que era uma tarde
de Inverno
e faltamos às aulas
e a areia estava molhada.
Ela roubou um livro da livraria,
ainda me lembro
como se fosse hoje,
era o Heliogábalo ou o Anarquista Coroado,
eu nem sequer fui cúmplice.
Ela fumou um “charro”,
eu não fumei.
Ela chegou o seu corpo nu
ao meu
 e eu fiquei capaz de todos os crimes.
A última coisa
que me recordo
numa memória enevoada,
era do livro de Artaud
a fazer de almofada
e os seus olhos estrelados
e a sua cabeleira em chamas,
ainda hoje
o seu nome ficou por ali
preso às rochas
ou na amabilidade da espuma.

Lisboa, 3 de Janeiro de 2014

Carlos Vieira

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