sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Diário


25 de Janeiro de 1976, domingo

Neva. Bebo um café e como um «babá» na pastelaria feminina de Jodoigne. O convívio, a vida de grupo, continua a parecer-me um problema insolúvel, mas deixei de ouvir a frase que o exprimia, quando me levantei esta manhã. Aos homens escapam muito mais coisas do que aos animais e às plantas________
Não gosto de ver nevar quando estou sozinha. Ouço uma música adequada à neve. Como já disse, a pastelaria é feminina.
A Quinta, o pão, absorve todo o tempo. São sempre os mais pobres que trabalham, que trabalham no tempo até o abolirem.
As crianças imaginam que a vida dos adultos, quando estão com elas, é sempre um prazer.
Limpar a casa, ver o chão brilhar e espelhar o que imagino, e é real, fazer almofadas trabalhando o tecido para o repouso, acender a luz quando faz noite, e olhar e olhar-me sob outra perspectiva, são já belos motivos para viver.
Mas nada escapa a esta tristeza doce que é também provocada pela minha existência limitada do tempo.
Volto para casa, fazer croquetes. Mas antes leio uma frase de Histoire de l'idée de nature:
*«Mas a natureza não é assunto de um só sábio.»*

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