domingo, 21 de setembro de 2014

Seu corpo teu fogo sem artifício


Foguetes
a estrelejar
e a iluminar
a nudez ávida
do teu corpo
no ardor
da urgência
ao longo
da húmida erva
cúmplice
que esconde
aquele amor
proibido
numa aldeia 
do interior

no espanto
do rosto dela
afogueado
nesta noite
de um amor
que os consome 
em lume brando
só do encontro
no seu olhar
toda terra treme
e há vulcões
prestes a entrar
em erupção
e eles ficarão
a descoberto

ai perto
a algazarra
dos garotos
na sua pueril
brincadeira
de ir apanhar
as canas
e ainda se ouve
o resfolegar
de uma cansada
concertina
está a acabar 
o arraial
não vão deixar
de dançar
de mão dadas
contra a lonjura
e o desconhecido

amansa
lentamente
o estertor
dos corpos
vão ver-se
de novo amanhã
haverá  
de novo a festa
vai estrelejar
dentro de si
ele irá
levar-te consigo
até às nuvens
ali vão estar
definitivamente
protegidos
de qualquer
indiscrição.

Lisboa, 21 de Setembro de 2014
Carlos Vieira



“Kissing” por Alex Grey

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