quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Um primeiro amor de 1.ª classe


 
Chove interruptamente, a minha jovem professora da 1ª classe, veste uma gabardina em 1967, ela podia afastar todas as nuvens com o seu sorriso suave.
De botins de borracha atravesso os charcos e o canto cristalino do ribeiro, conheço-os de cor e salteado, agora vou orientar a elegante professora, nestes caminhos impraticáveis.
É ainda escura a madrugada, eram enevoados os textos da 1.ª classe, se escolto a minha primeira professora, não quero saber do tempo, nem dos números e letras, quero ficar retido neste ano.
Nunca usei o mata-borrão nesse ano, a professora deu-me o livro do Bambi, pela minha tarefa de guarda-costas.
Eu disse um palavrão, quando me mandou chamar para limpar o recreio, dispensando-me da nobre missão de seu escudeiro.
Ela, no ano seguinte, não regressou e fiquei de castigo para o resto da vida, aparece sempre nesta época do ano.

Lisboa, 31 de Outubro de 2012
Carlos Vieira

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