Estava de pé sobre a falésia, a dois passos do abismo e não tinha medo de ninguém.
As gaivotas eram rabiscos no céu e o mar de pequena vaga, encrespado, era todo seu.
Ele coroado de sal viu passar as cegonhas, nuvens dentro de navios, cães que levavam os cegos pelos ares e as aves de rapina junto das andorinhas.
Reconheceu o melro que falava a sua mãe, o seu vizinho do lado e pareceu-lhe que viu também, o de baixo. Tantos homens amputados, os que falam sozinhos e os outros, os dos bons ofícios e dos maus. Tudo aquilo lhe era estranhamente familiar, até a chuva que aparecia para os dias cinzentos.
Para onde iam com tanta pressa com os olhos virados ao contrário, será que fugiam?
De repente tremeu, não sabe se de medo ou daquele frio de há muitos anos, num país abandonado. Sentiu-se perdido, sem saber de que lado estava o abismo.
Lisboa, 17 de Outubro de 2012
Carlos Vieira
De repente tremeu, não sabe se de medo ou daquele frio de há muitos anos, num país abandonado. Sentiu-se perdido, sem saber de que lado estava o abismo.
Lisboa, 17 de Outubro de 2012
Carlos Vieira
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