domingo, 28 de outubro de 2012

Felino


 

 

Na sombra selvagem

fulge tão ágil e letal

o gesto mais puro

que ceifa uma vida

no rumor da folhagem

o coração das clareiras

o golpe tranquilo e audaz

o carvão da camuflagem

reescrevendo a paz

 

é o gume do silêncio

aceso nos meandros

da fome e da morte

um grito enlaçando

estrelas que deixam

as garras degolando

noites de insónias

 

aquela faca pousada

uma ave da eternidade

que se esvai no pulso

os dentes que rasgam

a pele das palavras

e calam o desespero

do sangue que recuperou

a luz e a liberdade

 

é urgente o relâmpago

que ilumina esta fera

em nós encurralada

que liberte de nós

este vazio esta ameaça

esta voz que apodrece

na garganta

do tempo que nos esquece

que nos devora

tão presente

tão felina por isso inocente

 

Lisboa, 28 de Outubro de 2012

Carlos Vieira

 

 

 

 

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