Na sombra selvagem
fulge tão ágil e letal
o gesto mais puro
que ceifa uma vida
no rumor da folhagem
o coração das clareiras
o golpe tranquilo e audaz
o carvão da camuflagem
reescrevendo a paz
é o gume do silêncio
aceso nos meandros
da fome e da morte
um grito enlaçando
estrelas que deixam
as garras degolando
noites de insónias
aquela faca pousada
uma ave da eternidade
que se esvai no pulso
os dentes que rasgam
a pele das palavras
e calam o desespero
do sangue que recuperou
a luz e a liberdade
é urgente o relâmpago
que ilumina esta fera
em nós encurralada
que liberte de nós
este vazio esta ameaça
esta voz que apodrece
na garganta
do tempo que nos esquece
que nos devora
tão presente
tão felina por isso inocente
Lisboa, 28 de Outubro de 2012
Carlos Vieira
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