Filigranas de Outono, a bordejar
o céu cinzento desta Alameda, de um tempo de tubos de
escape.
Nuvens de folhas, em remoinho perseguem-no,
enquanto não o revestirem, não vão
descansar, enquanto não o cercarem
no beco, como a fome de uma pequena matilha de cães
abandonados.
Aceitaria fazer de morto ou
fingir de árvore derrubada, a história da intervenção dos bichos
mais adiante é que ainda lhe faz
cócegas.
De resto, aquela humidade da
terra que sente nas costas, pareceu-lhe o início de uma nova
vida ou talvez do crescimento das
asas, sentiu-se por isso, naquilo que deveria ser a sua queda,
mais perto do céu.
Sentou-se num daqueles bancos
clássico de tábuas de madeira pintadas de verde, a resistir ao
frio que anoitece nos seus pensamentos.
Divaga no xadrez de luzes dos
prédios em frente. Vai reconstituindo os afazeres e conflitos
domésticos, daqueles vizinhos também
eles de passagem, com tudo tão arrumado.
O bispo branco no seu movimento
traiçoeiro e oblíquo comeu o cavalo, enquanto uma família
numerosa prosseguia, no seu frugal
jantar.
Um casal de namorados que se preparava
para a inocência desastrada do primeiro beijo
encostado a um tronco de uma
amoreira, foi devorado pela máquina de lavar, da
marquise do 1.º andar, ali sobre
a minha direita.
O mundo está estranho em Outubro,
a Alameda está quase nua e quase morta, estranho
enigma é aquela nudez primordial.
Lá vamos, muito cegamente, a
caminho do cadafalso, do caos, de olhos vendados, tropeçamos
na desconhecida pureza da neve, confundimos
a alergia com o desabrochar das flores e
deixaremos de saber distinguir o
perfume e as cores da fruta madura.
Nós os citadinos passamos a
correr pela vida, porque estaremos sempre atrasados e quando
chegarmos ao destino, vamos
descobrir que já é Verão e desistir de todas as outras
estações.
De qualquer forma, o aumento do preço
dos bilhetes, não nos permite que nós tenhamos
outra dimensão nos sonho.
Lisboa, 7 de Outubro de 2012
Carlos Vieira