I
emboscado no canavial
estremece ao ver
os pés descalços
que agitam
as águas do açude
irão despertar
nas profundezas
da alma
imprevisíveis monstros
emboscado no canavial
estremece ao ver
os pés descalços
que agitam
as águas do açude
irão despertar
nas profundezas
da alma
imprevisíveis monstros
II
no salgueiro
há um rouxinol aceso
uma boga beija
os lábios dela
no espelho de água
refletidos
apenas ele desconhece
os segredos
que se escondem
na sua boca
no salgueiro
há um rouxinol aceso
uma boga beija
os lábios dela
no espelho de água
refletidos
apenas ele desconhece
os segredos
que se escondem
na sua boca
III
uma rã descansa
sobre o veludo verde
do nenúfar
ela entre os dentes
trinca uma flor silvestre
só quem pode
aproximar-se
pode distinguir
o alcance
dos seus perfumes
e sossegar
uma rã descansa
sobre o veludo verde
do nenúfar
ela entre os dentes
trinca uma flor silvestre
só quem pode
aproximar-se
pode distinguir
o alcance
dos seus perfumes
e sossegar
IV
entretanto a rã
pressentindo
o agitado coração
no canavial
coaxando
atira-se à água
como quem se despede
da vida
e a rapariga
por nada começa
a trautear
uma canção
de encantar
entretanto a rã
pressentindo
o agitado coração
no canavial
coaxando
atira-se à água
como quem se despede
da vida
e a rapariga
por nada começa
a trautear
uma canção
de encantar
Lisboa, 19 de Maio de 2016
Carlos Vieira
Carlos Vieira
Sem comentários:
Enviar um comentário