segunda-feira, 22 de agosto de 2016

À deriva na água doce


Sento-me
à popa deste navio
cansado de mim mesmo
e deixo o olhar ir para além
daquela esteira de espuma
e de esquecimento
pela bifurcação das ilhas
para onde a corrente
arrasta o pensamento
pairo com aquela gaivota
sobre o silêncio impenetrável
da floresta nórdica
ao longe a distante Estocolmo
observa indiferente
a confrangedora
falta de perícia e rumo
do navegador
em espelho de água doce
e de vida tão pouco exigente
perante a dor dos espoliados
e o tão pouco profundo
amor pelos outros
tanto abraço de afogados
e náufragos à deriva
que se querem salvar
a si próprios ou de si mesmos
ou deste mundo.
Estocolmo, 2 de Junho de 2016
Carlos Vieira


Fotografia de autor desconhecido

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